20080422



Sei que procuro a existência de uma alma, de um ser que não aparece.
Mas será alma? Será ser?
Um ser não tem alma, porque a Alma é maior que o tamanho de um ser.

Queria ter Alma, queria sentir, com aquela pureza branca capaz de ferir o olhar,
como quando a claridade me cega. Infeliz.

Um dia acordei e senti, senti.
O pé esquerdo tocou o chão e sentiu o frio. Com a mão ensonada, desviei o cabelo
e esfreguei os olhos, e senti. Senti o cabelo rebelde e os olhos cansados de um
sonho estranho.

Estava a sentir. E senti. Acho que senti. Mas tudo acabou num rotineiro devaneio.
Lembro-me do meu reflexo, da água fria nas mãos em forma de concha (ou na concha
em forma de mãos, não me recordo), e depois... Acho que apaguei a Alma.

A nitidez destruiu o sonho, desfez o valor da sensação. Fiquei imune, distanciei-me de deus.
Não sei quando voltará a procurar-me, ou se terei de correr atrás dela,
mas eu tenho saudade de sentir, de A sentir, de (Me) sentir.


fotografia de Virgílio Ferreira

No comments: